Como criar um portfólio artístico para estudar no exterior?

Entrevista com Monique Schoenacker, portfolio adviser da Alma Mater

Você tem interesse em design, moda, arquitetura, cinema, artes, ou alguma outra área criativa? Se quer ser aceito nas melhores universidades do exterior, vai precisar montar um excelente portfólio artístico. Sabemos que essa tarefa pode ser intimidadora, mas com tempo e dedicação é possível criar um portfólio digno das melhores faculdades do mundo. 

Leia abaixo nossa entrevista com Monique, uma das portfolio advisers mais experientes da Alma Mater!

AM.: Olá Monique! Você poderia se apresentar para a gente?

Monique: Sou Monica Schoenacker/Monique, formada em arquitetura pela FAU-USP e mestre em Printmaking pelo Royal College of Art em Londres. Há 20 anos dou aulas de Arte e Design no ensino superior, ministrando cursos ligados às artes gráficas, design de superfície e de produto. 

Já trabalhei em várias instituições de ensino superior com moda, design gráfico e de produto. Os últimos sete anos, aliás, foram dedicados ao ensino de arte e design na Escola Britânica de Artes Criativas, onde fui Module Leader no Foundation Course of Art and Design, e no BA of Graphic Design.

Tenho, paralelamente às atividades acadêmicas, um trabalho autoral em design de produto e artes visuais. Nele, técnicas de impressão artesanal como serigrafia estamparia têm uma presença significativa.

Desde 2020, tenho orientado os alunos da Alma Mater na preparação de portfólio artístico, propondo exercícios que gerem resultados e que cumpram as solicitações das escolas pretendidas. Além disso, também ajudo na organização dos materiais que os alunos já vêm produzindo ao longo dos anos. 

Ou seja, meu trabalho envolve uma curadoria cuidadosa do material existente e orientação para a geração de ideias e novos trabalhos exigidos pelas instituições escolhidas.

AM.: Conte-nos um pouco sobre o seu trabalho e seu background (outras escolas, exposições, etc)?

Monique: Meu trabalho no mercado transita o tempo todo entre Arte e Design. 

Por exemplo, faço produção gráfica para vários escritórios de design, me responsabilizando pela fabricação de produtos gráficos e objetos de design que garantam qualidade de fabricação e o impacto visual pretendido.

Além disso, tenho também um trabalho como artista visual, que se manifesta bastante na produção de objetos impressos, assim como em serigrafias complexas impressas manualmente na Serigaragem, que é o meu atelier. 

A interface entre a imagem digital e impressa me interessa bastante, bem como a interação das peças gráficas com o público. Graças a isso, desenvolvi a Sericleta, um triciclo de impressão onde o público é convidado a participar da ação como observadores, interlocutores e impressores das peças gráficas. Com ela, levo a mágica da impressão manual para um público mais amplo em eventos da rede Sesc, escolas entre outros espaços. A Sericleta já imprimiu mais de 50 mil cartões postais junto com público em ações de Live printmaking em várias cidades do estado de São Paulo.

Ensinar Arte e Design e/ou introduzir jovens a esse universo, é algo que me dá muito prazer. As sessões de preparação de portfólio artístico acabam tendo também um papel na ampliação e compreensão do aluno sobre suas escolhas artísticas e acadêmicas. Afinal, através da apresentação de nomes importantes de diferentes áreas, os alunos têm uma maior compreensão de sua prática profissional futura.

AM: Quais características são essenciais para a criação de um excelente portfólio artístico?

Monique: Em primeiro lugar, um bom portfólio deve sempre mostrar processos de criação junto aos seus resultados. Nesse sentido, é importante mostrar a geração de ideias e a pesquisa que auxiliou o desenvolvimento de peças que mostrem quem são os alunos e como vêem o mundo. 

Um portfólio artístico de sucesso deve revelar como o aluno se expressa com soluções visuais para assuntos que reflitam seus interesses, habilidades e inquietações. O avaliador de portfólio vai tentar entender quem é o aluno, como ele observa o mundo no recorte da especialidade escolhida. Ademais, vai analisar as técnicas que o aluno domina, e como responde visualmente às questões de arte e design propostas.

AM: Com quanto tempo de antecedência você recomenda que os alunos comecem a preparar um bom portfólio artístico?

Monique: Organizar com cuidado o tempo para o preparo de portfólio artístico é fundamental. No entanto, o tempo para a preparação de um bom portfólio depende muito do material trazido pelo aluno. Seis meses seria idealmente o mínimo para conseguirmos bons resultados, mas já tivemos situações bem diferentes. 

O mais importante é a dedicação do aluno para seguir as orientações e ter controle geral do processo. Ele deve, portanto, estar a par dos deadlines, fazer os exercícios e comparecer aos encontros. Além disso, deve ter abertura para experimentar novas técnicas e ideias. 

Portfólios amplos em termos de técnicas e experimentações geralmente têm mais sucesso do que portfólios focados em uma única área. Nesse contexto, o candidato a um curso de Animação, por exemplo, não necessariamente deve ter portfólio só de animações. Pelo contrário. Evidências visuais de processo, geração de ideias, storyboards, desenhos de observação e fotografias são tão importantes quanto as eventuais animações. Em outras palavras, sem experimentações não se chega a bons resultados e para isso precisamos de tempo!

AM: Você pode dar alguns exemplos de universidades para onde ex-candidatos da Alma Mater que trabalharam com você entraram?

Monique: Os alunos que fizeram o processo de preparação de portfólio artístico comigo juntamente com a incrível equipe da Alma Mater foram aceitos em muitas de suas escolhas de universidade. 

Ao longo dos anos tivemos a alegria de celebrar alunos e alunas aceitos na University of the Arts London (UAL), no Fashion Institute of Technology (FIT), na Parsons School of Design, no Istituto Marangoni, no renomado programa de arquitetura da Syracuse University, no programa de Communication and Digital Media da IE University, na Espanha, na Nuova Accademia di Belle Arti (NABA), na Itália, e em muitos outros programas de renome em diferentes áreas.

AM.: Qual é a maior dificuldade que você observa que os alunos têm no preparo do portfólio artístico?

Monique: Alunos em geral têm dificuldade em manter uma prática diária de desenhos e anotações para geração de ideias. Por isso, sempre sugiro que os alunos tenham um “diário gráfico” onde peço que ocupem uma página dupla diariamente. 

Diários gráficos ou sketchbooks podem conter textos, anotações, impressões sobre os lugares visitados, pequenos desenhos, colagens e recordações de situações específicas. Na prática, funciona basicamente como uma espécie de diário ilustrado da vida dessa pessoa. Ou seja, deve ser um inventário de ideias e possibilidades de ação. 

O caderno se torna, portanto, um local físico onde as ideias, experiências e pesquisas do dia são expressas visualmente. Sempre insisto que os desenhos não precisam ser virtuosos, mas devem ser claros e fluidos o suficiente para transmitir a ideia. Para chegarmos a essa fluidez e clareza na representação visual, é necessária uma prática consistente.

AM: Que dica você daria para alunos que estão no início do Ensino Médio e estão em dúvida sobre que área artística seguir?

Monique: Na minha opinião, ao escolher um curso de nível superior é importante que o aluno pense sobre as especificidades da carreira que está escolhendo. Portanto, é importante responder a questões como: “Prefere trabalhar em equipe ou individualmente?” “Gosta de rotina ou prefere uma vida mais nômade?” Esses questionamentos já podem facilitar uma escolha entre ilustração e cinema, por exemplo.

Isso porque o ilustrador ou designer gráfico recebe a demanda da editora. Nesse processo, vai trabalhar, em geral, sozinho e durante o trabalho terá somente contato com o autor e com a editora /cliente. Já o diretor de arte para cinema, publicidade ou mídias de comunicação, vai receber um briefing/roteiro, vai interpretar esse conceito com um time de profissionais e vai trabalhar em locações diversas com equipes variadas a cada projeto. Assim, levando em consideração o “dia a dia” de cada opção, se consegue avaliar melhor e fazer escolhas mais consistentes. 

Uma vez que se pretenda alguma carreira no universo da arte e design, a pesquisa deve ir mais a fundo do que simplesmente o gostar de um tipo de produto ou outro. Afinal, gostar de roupa é diferente de ter interesse em atuar na indústria de moda e vestuário, que é uma carreira cheia de nuances entre a criação e o comercial. Produção de vestuário envolve desenho, modelagem, estamparia e produção em série de objetos reais. 

Por outro lado, quando se opta por game design, não basta gostar de jogar. É preciso ter interesse em desenhar personagens, conceitos e eventualmente entrar no universo da programação de jogos e ambientes interativos. 

Monique: conversar com profissionais do mercado é importante

Para avaliar a prática de diferentes profissões é importante conversar com profissionais das áreas de interesse também. Se possível, tentar encontrar um estágio, ou um dia acompanhar algum profissional que trabalhe na sua área de interesse. Nesse contato, busque entender aspectos do mercado atual da carreira escolhida. 

Importante dizer que uma carreira se faz a partir de um interesse genuíno na área de atuação e que a formação é contínua e acontece também além da faculdade, na pesquisa constante de áreas correlatas.

Como menciona Charles Watson, um importante pensador sobre questões relativas à criatividade, “Ninguém jamais teve uma ideia que ninguém mais teve. A criatividade não funciona assim. Contribuições criativas são lentas e incrementais, construídas em cima de conquistas passadas e fruto de grandes investimentos dos seus autores. São consequências de um diálogo entre o passado e possíveis futuros. Evolução criativa e evolução Darwiniana tem algo em comum. Não houve um único momento em que um animal de repente levantou-se e começou a andar em duas patas e nem, na história de criatividade, grandes obras surgiram do nada.”

Boa sorte a todos, e falem conosco se quiserem ajuda para começar o seu próprio portfólio artístico!