Mudanças no sistema universitário holandês 

A Holanda tornou-se um destino cada vez mais popular entre estudantes internacionais nos últimos anos, que agora representam mais de 30% do corpo estudantil das universidades do país. E não é para menos. O sistema universitário holandês é reconhecido mundialmente, sendo composto por oito universidades ranqueadas entre as 100 melhores do mundo. De acordo com o Times Higher Education (2023), integram o seleto rol de instituições a Wageningen University and Research, University of Amsterdam, Utrecht University, Delft University of Technology (TU Delft), University of Groningen, Leiden University, Erasmus University College e Erasmus University Rotterdam.

Infelizmente, esse grande número de jovens estrangeiros que o país recebeu e segue recebendo resultou em uma crise no sistema universitário holandês, que está muito saturado. Isso também se reflete na oferta imobiliária e na dificuldade de achar residências estudantis confortáveis e acessíveis, especialmente nos grandes centros urbanos. 

Agora, o país está pensando em como deve adaptar suas políticas, possivelmente impondo medidas mais restritivas, como estabelecer cotas para limitar o número de estudantes estrangeiros indo residir por lá. Abaixo, explicamos um pouco mais sobre essa crise e suas implicações.

Por que o sistema universitário holandês é tão atrativo?

As universidades holandesas costumam atrair estudantes internacionais de todos os cantos do mundo por terem anuidades e custos indiretos bastante acessíveis. Principalmente quando comparados aos EUA, Reino Unido e outros países com cursos em língua inglesa. 

Além disso, há o fator da conhecida receptividade do povo holandês, percebido como simpático e inclusivo. As principais cidades do país, como Amsterdã, Roterdã, Haia e Groningen, e mesmo as menores e mais remotas, como Leiden, Delft e Eindhoven, costumam movimentar economias locais liberais e cultivar estilos de vida progressivos. Além disso, investem em inovação, infraestrutura e na conservação de belos cenários naturais. 

Aos estudantes internacionais que optam por este destino para os estudos, há ainda a facilidade de viajar pela Europa pela proximidade a outros países e mobilidade dentro da área Schengen, da União Europeia. Tudo isso, por sua vez, atrai a cada ano que passa um maior número de imigrantes. Muitos deles, inclusive, são estudantes de outros países europeus e, também, de outros continentes, incluindo, claro, a América Latina. 

Os problemas enfrentados pelas universidades holandesas

Mais de 115.000 estudantes internacionais escolheram a Holanda como destino de estudos no ano letivo 2021/22, o que significa um aumento de 12% em relação ao ano anterior. E esse número continua a crescer, provocando uma verdadeira crise no sistema universitário holandês, conforme pontuamos a seguir.

Falta de acomodação estudantil

Uma das maiores problemáticas do sistema universitário holandês atualmente é relacionada à logística. Simplesmente não existe espaço e moradia suficientes para tantos alunos. Nesta última temporada de candidaturas, a University of Amsterdam recomendou aos estudantes internacionais que garantissem um contrato de aluguel ou solução de moradia antes de se mudarem para lá. 

Em resposta a essa crise, o governo holandês iniciou um “Plano de Ação Nacional” para acomodação estudantil, com o objetivo de construir 60.000 residências estudantis até 2030. No entanto, durante os próximos oito anos até a integração completa do plano, a questão da moradia acessível no país continuará sendo um desafio para muitos alunos.

Falta de oportunidades para estudantes do próprio país

O volume exponencial de estudantes internacionais imigrando ao país levou a outra preocupação. Com mais estudantes competindo por vagas, está se tornando cada vez mais difícil para os estudantes holandeses serem aceitos em seu próprio país. 

Embora a Holanda sempre tenha defendido fortemente a importância de ter turmas diversificadas e multiculturais, existe hoje um receio de que alunos holandeses não tenham a oportunidade de usufruir do seu próprio sistema educacional.

Mudanças no sistema universitário holandês e impactos sobre os estudantes internacionais

A Universities of The Netherlands (UNL), associação das universidades da Holanda, e o governo holandês estão discutindo sobre o melhor caminho a seguir em relação às políticas voltadas à admissão de estudantes estrangeiros, e essas mudanças devem começar a ser sentidas na próxima temporada de applications.

Limite de vagas para alunos internacionais

Como já mencionado, uma das maiores mudanças que se espera é que certos programas acadêmicos passarão a colocar uma cota no número de alunos internacionais a serem aceitos. A University of Amsterdam, por exemplo, está planejando testar a ideia de uma cota em seus cursos mais populares, como Psicologia e Ciências Políticas

Pieter Duisenberg, presidente da UNL, anunciou que outras universidades holandesas devem implementar essas limitações em cerca de 20 cursos diferentes, incluindo em cursos de Comunicação e Mídia. Embora nenhuma limitação tenha sido oficialmente imposta ainda, os alunos que planejam se candidatar para estudar na Holanda em 2024 provavelmente serão os primeiros a passar por um novo sistema de cotas.

Diploma internacional de ensino médio

Outra mudança no sistema universitário holandês que já está em vigor diz respeito aos requisitos de ingresso para estudantes internacionais que não concluíram o ensino médio com um diploma reconhecido como “internacional”, como IB Diploma, Abitur ou Bac francês. 

Devido às diferenças do conteúdo e estrutura do ensino médio da Holanda e de muitos países, incluindo o brasileiro, muitos estudantes internacionais precisam obrigatoriamente fazer um ano de curso universitário no Brasil para, então, aplicar para a universidade no país. 

Existem programas chamados “Foundations” que foram criados e oferecidos pelas próprias universidades e várias outras agências, como o Holland International Centre, que oferecem uma alternativa a esse problema. Mas, recentemente, o Holland International Center anunciou que “estarão fechados a partir de 31 de agosto” e que não irão oferecer programas de Foundation.

Embora algumas universidades continuaram oferecendo seus próprios Foundation Years, a dissolução do Holland International Center fecha uma porta que havia facilitado muito o processo de admissão de estudantes estrangeiros nas universidades holandesas.

O que estudantes estrangeiros podem fazer para serem aceitos no sistema universitário holandês, independentemente dessas mudanças?

Embora essas mudanças sejam vistas como mais um obstáculo para os estudantes que sonham em estudar na Holanda, ainda há esperança. As universidades holandesas sempre priorizaram a importância de ter um corpo discente diversificado; estudantes internacionais compõem uma parte essencial de todas as universidades. 

No entanto, os candidatos terão que se esforçar mais nas diferentes frentes da candidatura para se destacar, pois concorrerão a menos vagas em seus cursos de escolha.

Ter um bom desempenho escolar

Sempre que possível, os alunos devem concluir um diploma internacional de ensino médio, como o IB Diploma, Abitur ou Bac, e estudar muito para obter a pontuação mais alta possível no ensino médio (histórico escolar) e em provas como o SAT ou mesmo o ENEM. 

Para os alunos que não estão em escolas que oferecem tais diplomas internacionais, podem complementar suas notas escolares através de programas de extensão, intercâmbios culturais-acadêmicos, ou outras avaliações internacionais como o AP (Advanced Placement). 

Uma alta pontuação no ENEM e/ou vestibular de faculdades no Brasil, ou completar um ano letivo (2 períodos completos) em uma faculdade brasileira antes de se candidatar para uma universidade holandesa também ajudará muito.

Ter um currículo com atividades extracurriculares

Juntamente com um bom desempenho acadêmico, o sistema universitário holandês procura os candidatos que mais demonstram liderança, colaboração em equipe e comprometimento com o ambiente acadêmico e estudantil, avaliando esses fatores de forma geralmente holística. É fundamental desenvolver um forte currículo com atividades extracurriculares estratégicas e interessantes, junto às boas notas ao longo do ensino médio.

Considerar outras universidades europeias

Finalmente, enquanto os caminhos para as universidades holandesas parecem estar se estreitando a partir desse momento, é importante ressaltar que existem outras universidades com esse perfil – bom renome e mais acessível financeiramente – em outros países europeus. Isso pode ser uma oportunidade para ampliar seu horizonte e explorar outras alternativas, dependendo do nível de competitividade da sua candidatura. 

A Bélgica, a Itália e os países da Escandinávia são alguns exemplos. Esses destinos possuem excelentes cursos de graduação e pós-graduação em inglês com mensalidades mais baixas e, às vezes, até gratuitos para estudantes com cidadania europeia. A crise no sistema universitário holandês, que se intensifica ano após ano, pode nos levar a enxergar vantagens inesperadas em outros países que, até agora, foram um pouco negligenciados.

Se você sonha em estudar na Holanda ou em outro lugar da Europa e não sabe por onde começar, entre em contato com a Alma Mater e deixe-nos guiá-lo durante o processo! Boa sorte!

Esse artigo foi escrito pela consultora Wendy Turner da Alma Mater.